O “Beijo com a Janela” de Munch. O amor como anulação
Deuses do Amor - Última atualização: 26 de agosto de 2025
Em 1892, Edvard Munch pintou “O Beijo com a Janela”, hoje no Nationalmuseet for Kunst, em Oslo. Óleo sobre tela (73x92cm), a obra faz parte do célebre ciclo “O Friso da Vida”, no qual o artista reuniu trabalhos sobre os grandes temas humanos: vida, amor, medo, morte, melancolia e ansiedade.
Mais do que decorar, Munch queria que a pintura fosse uma janela para a alma — revelando seus segredos mais ocultos.
Um beijo inquietante
Na cena, um casal se beija junto a uma janela. Mas, longe de transmitir ternura, a pintura sugere inquietação e clandestinidade.
As figuras, quase fundidas em uma mancha única, são retratadas de modo indefinido, furtivo, frio.
Do lado de fora, uma rua iluminada por vitrines e transeuntes contrasta com o ambiente vazio e sombrio do interior.
Munch não pinta um beijo romântico. Ele revela a fusão ansiosa de dois amantes, que parecem buscar refúgio e, ao mesmo tempo, perder sua própria identidade.
Desejo e medo do amor
As cores frias, o traço grosso e apressado refletem a turbulência emocional do artista.
Para Munch, o amor era ao mesmo tempo desejo e tormento. Seus relacionamentos, marcados por ambiguidade e conflitos, reforçavam essa visão: estar com uma mulher significava, para ele, inevitavelmente sofrer.
O caso tempestuoso com Mathilde (Tulla) Larsen — que insistia no casamento, enquanto Munch fugia dessa ideia — é o retrato vivo dessa tensão entre atração e rejeição.
Uma leitura possível: exaltação do amor
Apesar da atmosfera sombria, o quadro também permite outra interpretação.
O casal que se funde, indiferente ao que acontece fora da janela, pode ser visto como a celebração da união, do desejo de se tornar um só.
É nesse paradoxo que a obra brilha: entre o medo e a entrega, entre a solidão e a fusão, Munch nos mostra que o amor é sempre um campo de tensão — e justamente por isso, irresistível.
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